União de ciência e empreendedorismo é foco de debate
12/09/2011


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Pesquisar, inovar, patentear. O processo não acaba aí. Para garantir o sucesso, o grande desafio hoje está na comercialização das tecnologias desenvolvidas. Unir ciência e empreendedorismo de forma equilibrada é a chave que nem todos possuem. Esse foi o núcleo do Debate FINEP desta semana, que contou com as presenças de Roberto Lotufo, diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, e de Maria Celeste Emerick, coordenadora da Gestec/Fiocruz - Coordenação de Gestão Tecnológica no âmbito da Vice Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz - Ministério da Saúde.

Com foco na atuação dos NITs - Núcleos de Inovação Tecnológica, Lotufo defende que a inovação nas ICTs - Instituições de Ciência e Tecnologia precisa de capital privado. "Acreditar que a universidade dá conta do processo todo é um equívoco, chega uma hora em que é preciso criar uma empresa", diz ele, que acha que ciência e negócios devem andar juntos nessa área.

Lotufo mencionou a experiência do Desafio Unicamp de Inovação, em que equipes disputaram com a tarefa de criar um modelo de negócios para tecnologias desenvolvidas na universidade. Com 140 inscrições, cada equipe teve um mentor acadêmico e um empresarial, sendo que este último é uma "figura-chave e um divisor de águas" para Lotufo, pois não é um mero consultor, mas sim um voluntário que compartilha suas experiências de mercado. O Desafio gerou, entre os finalistas, três projetos muito promissores e já com potenciais clientes identificados.

O modelo privilegiado pela Unicamp hoje enfatiza a análise de viabilidade prévia, investindo em simulações, maquetes e entrevistas antes de apostar numa ideia. "A Unicamp tem cerca de 700 patentes e o esforço de levar essas tecnologias às empresas não é trivial", diz Lotufo.

Nessa linha, ele defende ainda a criação de Fundos de Prova de Conceito como uma forma de dar suporte para a inovação em estágio embrionário. Segundo ele, o capital privado procura projetos minimamente consolidados, o que seria um empecilho quando a pesquisa ainda não está madura, apesar de ser promissora.

Outras estratégias para alavancar os NITs seriam programas de estágio em instituições congêneres no exterior e bolsas de pós-doutorado para atuação nos Núcleos, além de muito treinamento voltado para empreendedorismo, comercialização de tecnologia e propriedade intelectual. "Todo mundo que trabalha em NIT dever ter veia empreendedora", afirma ele.

Maria Celeste também destacou a necessidade de profissionalização do setor. "Os direitos envolvidos na negociação de transferência de tecnologia são muito complexos", diz. Celeste crê ainda que "falta uma maior capacidade articuladora das instâncias que constroem políticas", pois, segundo ela, há diretrizes que muitas vezes inviabilizam parcerias - como no caso dos critérios de divisão de lucros de comercialização - e isso acabaria se transformando em "cercas entre as ICTs".

Investimentos em prototipagem e atenção também aos impactos socioeducacionais dos projetos  seriam outras duas ações importantes nos NITs, além da internacionalização. "Um segmento de inovação em saúde com patente só no Brasil não faz negócio", afirma.

Celeste finalizou sua participação apresentando um dos instrumentos bem sucedidos da Fiocruz: o Portfolio de Inovação. Dos cerca de dois mil projetos em andamento hoje na instituição, há 75 sendo ofertados neste site bilíngue.